domingo, 30 de novembro de 2008

Meu 2008

Voltando pra casa percebi que a estrela brilhante que é colocada na ponta da torre do Bourbon, perto da época do Natal, já está novamente por ali.

Puxa! Como passou rápido o ano!! E, se passou rápido, é porque estava bom! As coisas boas sempre passam voando!

Neste ano, além de eu ter entrado no grupo vocal "Expresso 25" (que era meu sonho de muito tempo), ter sido chamada pra participar do grupo instrumental "Trezegraus" que está desenvolvendo um trabalho muito bom, ter adquirido meu maravilhoso apartamento, ter criado este blog e ter entrado pra hidroginástica, eu fiz mais tanta coisa...

Eu... sonhei muito. Pensei muito. Projetei. Errei. Aprendi truques na cozinha. Fiz um pudim de iogurte. Fiz um escondidinho. Pus a mesa. Lavei louça. Fiz feira. Fui ao cinema. Fui a shows e concertos. Aluguei DVD. Fui à Itapuã. Vi pôr-do-sol. Tirei fotos. Curti minhas famílias. Vi flores. Comi néspera. Colhi pitangas. Fui ao parque. Fiz coceguinhas. Fui cocegada. Ganhei presentes. Dei presentes. Acompanhei. Deitei olhando pro céu. Dancei. Ri quase todas as noites antes de dormir. Cuidei. Dei dicas. Ajudei. Apoiei. Fui elogiada. Elogiei. Critiquei. Fantasiei. Comprei no Makro. Li um pouco antes de dormir. Me emocionei. Veio ao meu encontro um lindo saltitante, na frente do Instituto de Educação. Passeei com o cachorro. Cheirei. Mimei. Fui mimada. Dei ração pros bichos. Recebi café na cama. Comi quitutes. Comi saudável. Olhei. Admirei. Aprendi. Ouvi. Chorei. Gozei. Estudei contrabaixo para um concurso, recebendo valiosas dicas de interpretação. Brinquei de duos em casa. Brinquei de oboé barroco. Ouvi diferentes timbres de palhetas. Passeei de carro por cidade vizinha. Fui pro sítio. Fui colher folhas de eucalipto no inverno. Escrevi. Lutei. Cresci. Me desfiz. Emagreci. Tropecei. Levantei. Acreditei. Fiz carinho. Fotografei uma família querida. Amei. Conversei. Falei bobagens e coisas sérias. Concordei. Discordei. Confiei. Tive medo. Dormi a sesta. Ensinei a dirigir. Fui "tomar café". Comprei roupas de cama e coberta fofinhas. Acordei feliz, abraçada numa pessoa especial. Dormi com o nariz numa nuca cheirosa. Caminhei pela cidade. Observei. Conheci pessoas amadas. Concluí. Subi em árvore. Joguei bola no pátio. Sorri. Fui feliz.

Só o que me deixa triste, vendo tantas coisas boas, que a pessoa que me acompanhou durante todo o ano se afastou de mim dizendo que nós "destruímos" nosso 2008. Pena que as pessoas têm visões tão diferentes do mundo. Mas... com minha visão, seguirei em frente tendo a certeza de que sou uma pessoa feliz e que a estrela brilhante da ponta da torre do Bourbon
aparecerá sempre num piscar de olhos. Preciso, portanto, aproveitar meus anos ao máximo!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tarefas inusitadas

Das que eu ainda pretendo fazer na boa:
- ir a uma corrida de cavalos;
- aprender a dançar tango;
- andar de roller;
- sobrevoar Porto Alegre de helicóptero;
- assitir a uma apresentação do grupo "Les Luthiers";
- correr com meu amor por um campo de lavanda;
- conhecer a tríplice fronteira do Brasil com Guiana e Suriname;
- fazer um curso de fotografia;

Das que me interessam fazer, mas talvez não consiga nesta vida:
- aprender Japonês ou Búlgaro;
- tocar oboé;
- ser perfumista;
- saber o nome de todas as árvores;

Das que eu gostaria, mas acho que nunca terei coragem:
- voar de asa delta;
- fazer turismo na Europa de mochila e bicicleta, no outono;
- andar de tobogã;

Das que eu gostaria, mas acho que nunca conseguirei:
- ter um companheiro pro resto da vida e filhos nossos;

Das que eu gostaria muito, mas nunca irei:
- passar um final de semana em Porto Alegre de 1885;
- passar um final de semana em Porto Alegre de 1920;
- usar o teletransporte;
- sair da órbita da Terra;

Das que eu já cumpri:
- comer maçã do amor;
- andar de montanha russa;
- andar no túnel do terror;
- atravessar o parque tocando flauta;
- casa de espelhos que deformam a imagem;
- andar a cavalo;
- sobrevoar Porto Alegre de monomotor;
- ir a um desfile de modas;
- ir a um programa de auditório;
- andar de trenó;
- ir a um aeroporto de aeromodelismo;
- entrar num submarino;
- atravessar o parque com o figurino da peça de teatro;
- mergulho com snorkel a 7km pra dentro do mar;
- ir a um show do Fagner;
- ir a uma fábrica de chocolate;
- ir a um bingo;
- ir a um jogo de futebol!!

Das que eu repetiria:
- ir ao planetário;
- comer algodão-doce;
- pular em cama-elástica;
- fazer salto em altura

Das que eu não tenho a mínima vontade:
- ir a um desfile de carnaval;
- fazer um cruzeiro marítimo;
- comer scargot;
- andar de esqui;
- tocar trompa;
- bungee jump;
- assitir ao Domingão do Faustão;

domingo, 16 de novembro de 2008

Grêmio X Coritiba

Então de tardezinha eu iria pela primeira vez ao estádio para assistir a uma partida de futebol.

Ganhei ingressos de uma amiga, que por sua vez os ganhou em alguma promoção.

Me advertiram que o time pelo qual eu estaria torcendo usava camiseta azul com branco e preto, pra eu não me enganar ao olhar no campo.

Não tinha nada azul no armário. Eu sabia que de vermelho eu não poderia ir, senão seria linchada. Achei que o que mais se assemelhava ao azul era o verde... Mas acabei indo de branco com um casaco azul que achei perdido entre minhas roupas.

Por sorte!
O jogo era dos azuis contra os verdes e eu nem sabia!!!

Chegando lá, na primeira barreira, fui mostrar o ingresso... "Passa!!" - ouvi de um tom rude. Por que eu tinha que passar e meus companheiros não? Era a barreira policial, onde os milicos revistavam os homens, e as mulheres passavam impunes a qualquer coisa que quisessem portar para dentro do estádio.

Ao achar um lugar para sentar, automaticamente, fui tirar o som do celular, para que não atrapalhasse o evento...
Pobre do meu celular! Por mais que gritasse não me deixaria com dor nos ouvidos, como quase fiquei no momento do primeiro gol...

Parece que foi recorde de público. Tinha 43500 pessoas lá dentro. Até eu fui!!
Era um jogo importante.
Pro adversário tinha apenas um cantinho mínimo de cadeiras. Acho que 43400 pessoas torciam pro azul e as outras 100 pro verde.
Os azuis se voltavam pros verdinhos e gritavam "Vão tomar leiti quenti!"

Enquanto isso eu filmava o pôr-do-sol.
Observava pra onde ia o quero-quero, enquanto aquela galera estava correndo em seu gramado pra lá e pra cá.
Tentava ver onde estavam escondidas as caixas de som.
Via como era bonito o ballet dos braços dos azuis se sacudindo em massa para o mesmo lado.
Olhava a cara bizarra dos seguranças que ficavam estáticos na beira do campo, de costas para o jogo, de braços cruzados, com feições de malvados.
Tentava entender por que o banco dos reservas era "abaixo do nível do campo".
Cantava "oooo, aaaa, eeee" junto com todos... não sei o que queria dizer, mas o que cantavam acabava com essas vogais.
Ficava com pena dos 100 verdinhos que estavam constantemente vendo o dedo médio que os azuis mostravam pra eles.
Via que tinha umas 5 ou 6 bolas lá por baixo e umas gurias que corriam como tontas, pra buscá-las.

Nossa... tinha bastante coisa pra observar.

Prrrriii!! Eeeeeee!

O jogo acabou e eu nem me dei conta. (Assim como também não tinha me dado conta quando começou). Os tais azuis venceram de 2 X 1. Ah! Era um jogo importante. Não poderia ter sido uma partida melhor para ser minha primeira vez.
Tá bom.
Eeeee!! Então deixa eu aproveitar pra cantar o baixo do hino dos azuis, que tirei enquanto ainda não tinha começado a partida.

Aliás, os direitos autorais do hino são contabilizados por número de vezes que é tocado ou por evento?
Essa era mais uma questão importante que eu pensava durante o jogo...

De fato. Acontece tanta coisa num jogo!

Gostei!

Me pareceu divertido.

Entrou pro rol das coisas que eu tinha que fazer durante a minha vida. Agora já posso dizer que fui a um jogo de futebol.




foto: Cusco Gavronski

sábado, 8 de novembro de 2008

em trânsito

Já há 10 anos tive meu primeiro contato com Hundolândia, chegou pelas bandas de cá um de seus habitantes.
Um rapaz muito bonito e interessante, cuja sensibilidade e atenção o destacava. Nunca tinha conhecido ninguém assim antes.
Tive o privilégio de conseguir me aproximar um pouco dele e de vê-lo volta e meia. Às vezes com mais e às vezes com menos intensidade. Tinha um que outro costume diferente, como dormir com um cachorro na cama, se estressar em demasia com coisas que, para mim, não deveriam ter tanta importância, comer bastante cebola... Fato é que sempre foi uma pessoa com quem gostei muito de estar e, parece-me, sempre houve uma reciprocidade neste sentimento.

Nesses 10 anos vivi muitas experiências, em lugares diferentes, culturas diferentes. Aprendi muito.
Intensificando a convivência com meu amigo hundolandês, resolvi então que agora tentaria minha vida naquele seu país tão peculiar.

Fiz meus contatos, conheci outras pessoas de lá e todas foram tão receptivas e tão queridas comigo. Aprendi o bê-a-bá da língua local, pesquisei na internet, mandei meu currículo, falei um pouco a meu respeito...
Aparentava também terem gostado muito de mim! Consegui a garantia de um bom emprego, um excelente apartamento pra morar num lugar arborizado, clube, paz, felicidade.

Puxa! Que futuro atrativo e promissor!! Que maravilhoso intercâmbio!

Tratei logo de comprar uma passagem para lá. Deixei tudo cautelosamente armado para que nada desse errado. Arrumei minhas malas, dei tchau para os meus, comprei alguns presentinhos para levar e, como não podia faltar, meu carregamento de chimarrão para o kit de sobrevivência à distância!

Eba!! Como sou feliz!!

A viagem foi longa. Dormi bastante no vôo, mas às vezes abria um olho para espiar onde eu estava. Depois fechava novamente com um sorriso no rosto.

"Senhores passageiros, dentro de poucos minutos estaremos aterrissando no aeroporto de Astória. A temperatura é de 23º C e o tempo está bom."

Lá de cima eu já podia ver quão verde era aquele lugar e tinha muitos lagos. Tinha extensas plantações de diferentes sortes que formavam o colorido desenho de uma renda. Era bonito!! Eu estava chegando ali! Meu corpo parecia que ia explodir de tanta alegria! Eu sentia nos dedos a emoção querendo saltar de mim!

Desembarquei no aeroporto. Nada de luxos, mas muito honesto. As pessoas tinham traços muito lindos, caras sérias! Todas falavam muito rápido.

Controle de passaporte ok, as malas tinham chegado intactas. Controle da aduana: "luz vermelha!"
Eis que abri a mala para os fiscais, eles olharam minha erva do chimarrão e imediatamente fui pega por dois policiais sisudos que me conduziram a uma salinha onde seria interrogada por um oficial muito rígido e exigente, porém carismático e sedutor.
As perguntas eram muitas. Nem todas eu conseguia entender, ou por causa do idioma, ou por não ver fundamento na questão. A cada resposta uma reação extremamente exagerada que me deixava com um medo exacerbado e desanimada ou muito feliz, acolhida e esperançosa.
Ao mesmo tempo que me interrogavam, me serviam orgias gastronômicas deliciosas, mostravam músicas lindas tocadas por um oboísta da região, contavam o funcionamento do país e me comunicavam que eu estava sendo muito esperada e era muito bem-vinda.

Se eu era tão bem-vinda por que não me deixavam então sair dali e ir fazer minha vida de uma vez?!

E o tempo foi passando e eu fui ficando naquela salinha de entrada, sem que permitissem que eu realmente entrasse no país. O tempo foi passando e eu vi que a situação estava complicada, mas nunca desisti do sonho de fazer minha vida nova ali, afinal a vida não é feita só de flores. O tempo foi passando e eu me sentia feliz, mesmo assim, com as expectativas. O tempo foi passando e eu fui entendendo o funcionamento do país com a convivência das pessoas que passavam pela salinha. O tempo foi passando e eu fui agredida moralmente várias vezes, mas sempre pensei que fosse apenas uma questão de entendimento e ponderei. O tempo foi passando e eu inventava danças com músicas cantadas por mim. O tempo foi passando e foi diminuíndo os fatores que alimentavam aquele sonho. O tempo foi passando e a força para manter o ânimo foi se esvaíndo...

Estou há quase 11 meses na salinha de entrada e sou taxada de mentirosa e não tenho a confiança deles, apesar de saber que eles me querem lá. Eu mesma já não sei se confio no querer deles, embora ainda tenha a esperança de passar da salinha e conseguir recuperar minhas escassas forças numa cama bem gostosa e confortável que deve existir na cidade e, enfim, recomeçar.

...tudo porque eu trazia na mala meu carregamento de erva de chimarrão...

Passava pela salinha, de vez em quando, uma pessoa que estudou o comportamento e a cultura geral de diferentes países. Talvez ela pudesse me dar uma boa ajuda, mas ela não foi muito acessível para que eu pedisse que tentasse explicar minha situação aos hundolandeses. Talvez ela soubesse explicar que, por eu portar um simples chá, não significa que eu tenha que pertencer à máfia de traficantes e pessoas de más índoles do meu país, apesar de até conhecer muitas delas. Que eles poderiam separar as coisas, parar de tanto medo e me deixar passar.

Mas paciência. A situação está no limite, estou começando a ficar doente. Com MUITO pesar, criei coragem, pedi meu passaporte de volta e estou à caminho da sala de embarque para voltar pro meu país. Os hundolandeses não esboçaram nenhuma espécie de "não vai", além de repetir que gostam muito de mim.

Dói.

Quando penso em tudo que eu poderia viver que me parecia tão bonito, mas que praticamente não tive oportunidade de experimentar... Quando penso em deixar de conviver com aquelas pessoas tão queridas com quem me envolvi muito dentro da salinha...
Quando penso que não houve uma forte tentativa de que a situação fosse esclarecida e que aprendêssemos as nossas diferentes culturas e linguagens...

Dói.

Eles também estarão perdendo com a atitude que tiveram. Vão deixar escapar uma boa pessoa que, com certeza, os quer muito, lhes traria muito e lhes faria bem.

Paciência. Paciência.